sexta-feira, 13 de abril de 2012

Indignação.

Hoje fiquei muito irritada, indignada. Com raiva mesmo.
Recebi pelo FaceBook um link para um artigo na Folha.com, escrito por uma senhora chamada Luciana Saddi que se diz psicanalista. Eu digo se diz porque não conheço a pessoa, e também porque tô com raiva mesmo.

O artigo, coluna, ou sei lá como chamar o espaço que deram a ela, fala sobre "causas ambientais" do Autismo. E, como diz aquela propaganda antiga, vamos direto ao assunto: a culpa é da sua mãe.

Pelo que pude saber, existe uma tal teoria que se chama Mãe Geladeira e isso pode levar a criança ao Autismo. Essa teoria já foi desvalorizada há muito tempo (aliás, ela é dos anos 50) e, apesar de não conhecer a fundo sobre a teoria, pelo que me informei não é levada em conta por profissionais sérios.

Mas a ira não é só pelo texto - muito mal escrito por sinal, sem inicio ou fim, e sem apresentar-se como teoria: ela coloca a verdade, como única e exclusiva - um lixo. Mas também pelo confronto que ela desenvolve com as dezenas de comentários contrarios ao seu texto.

Mal educada e arrogante, discute grosseiramente com as mães, que indignadas como eu, contestam, desclassificam e se defendem numa tentativa de que a autora se retrate.

Mas ela não faz. Diz que não quer acusar ninguém, mas que a culpa é da mãe. E diz também que Autismo é doença mental, o que já foi provado não ser. E para uma mãe ela menciona vários títulos de filmes, como explicativos para o que ela colocou, como se precisássemos de filmes para conhecer a estória de nossas vidas!

Revoltante, raivoso. Um lixo.

Claro que comentei, mas a certa altura ela já não responde e depois sequer publica os comentários.
Fez de qualquer jeito, com um assunto que pede, no mínimo, delicadeza.

Olhando bem o artigo, ou o que quer que aquilo seja, percebemos que ela retirou uma parte de um texto, que deveria conter o inicio e o fim e talvés fizesse algum sentido. Mas do jeito que foi colocado ali, além de sem sentido, ficou sem noção. E pobre. E burro.

Mas quero ressaltar um dos comentários, que me chamou a atenção pelas palavras, pela informação, pela coerência. Um jornalista chamado Paiva Junior, que analisa o texto e aponta em cada palavra as falhas e imbecilidades escritas ali. Segue:

Paiva Junior, jornalista (Revista Autismo) comentou em 12/04/12 at 7:48
Luciana, parabéns pelas informações importantes que você postou nos outros textos e também no pequeno podcast a respeito de autismo. Não são informações com nenhuma novidade, mas é sempre bom propagar algo correto sobre autismo.
Para este texto, porém, tenho críticas e sugestões. Informações como essas que você publicou, da Thereza França, (portanto deve concordar com ela) podem confundir muitas pessoas e sugiro que esclareça melhor a ideia, pois já temos escassez de informação a respeito de autismo — e, se o que tivermos for confuso, pode muitas vezes ser pior que calar-se.
Dizer que “o recolhimento autístico pode ser entendido como uma proteção extrema que a criança lança mão diante de angústias insuportáveis para seu psiquismo ainda precário”, citando “variáveis ambientais” como “exposição excessiva a TV e/ou computador em detrimento do contato humano afetivo” é, no mínimo, passível de melhor análise e atualização.
Muitas pesquisas pelo mundo vêm descobrindo possíveis causas genéticas (estou falando de epigenética, não aquela simples, da hereditariedade que aprendemos nos ensinos fundamental e médio), a mais contundente sendo a do neurocientista brasileiro Alysson Muotri, na Universidade de San Diego, na Califórnia (EUA), publicada na capa da renomada revista “Cell”, em que conseguiu “curar” um neurônio “autista” em laboratório (se tiver curiosidade pelo assunto, leia minha entrevista exclusiva com Muotri em http://RevistaAutismo.com.br/muotri2010). Porém, o mais importante no meu argumento é o que o neurocientista percebeu de diferente morfologicamente entre os neurônios de autistas e o de pessoas com desenvolvimento típico (normais): seus núcleos eram menores, havia menos ramificações e faziam menos sinapses. Se essa informação da Thereza França, que faz referência à Psicanálise, estivesse correta, teríamos que admitir que essas variáveis ambientais, como exposição excessiva à TV causaria uma mudança morfológica nos neurônios. “Acredito que a mídia (principalmente a TV) tenha grande influência em nossa mente, mas não o bastante para tal.” Agora sem trocadilhos, não faz sentido para mim sua informação. Pois esta pesquisa que citei prova, contundentemente, o contrário. Não é possível nem sugerir ou dar entender uma relação causalidade para tal.
É impossível, a quem sabe um pouco acerca de autismo, não fazer uma correlação entre a informação que você publicou aqui e o exaustivamente condenado conceito de “mãe geladeira”, de décadas atrás. A pesquisa de Muotri só jogou uma pá de cal nessa teoria (veja o próprio neurocientista dizendo isso no Jornal Nacional, em http://www.youtube.com/watch?v=EwMub68EUDk). E desse ponto de vista, seu texto pode tornar-se um desserviço a muitas pessoas, por isso sugiro uma reflexão maior e mais atenta a respeito do assunto, se possível, até mesmo um novo post. Sugiro mais, vá conviver um tempo com alguém que tenha autismo, com famílias afetadas pela síndrome, conheça suas histórias, e depois volte a fazer um texto. Tenho certeza que você, com a inteligência que demonstra ter, repensará seus conceitos e escreverá algo, a respeito de autismo, avesso às teorias de Lacan e companhia.

Vou sim colocar o link aqui, para quem quiser perder tempo e não tenha mais nada para fazer. Para quem goste de besteirol ou queira ler baboseira. Nesta altura, em comparação a isso, até aquele programa Pânico na TV se torna extremamente inteligente.
http://falecomigo.blogfolha.uol.com.br/2012/04/05/sobre-as-variaveis-ambientais-no-autismo/




terça-feira, 10 de abril de 2012

Vitórias e Recitais.

Meu filho sempre foi fascinado por violino. Nunca viu um concerto realmente, mas desde que falamos com ele sobre aprender um instrumento, ele pedia por violino.

Algo que nunca me passou pela cabeça, para mim violino era uma coisa tão distante e praticamente inacessível.
Até que decidimos colocá-lo na natação, e como negociação entrou na pauta a aula de violino.

(Esse lance da negociação, aprendemos com ele. Nunca conseguimos impor nada a ele, não por sermos politicamente corretos, mas por que ele argumenta tanto e tão racionalmente que a imposição perde o sentido, sempre. Quando negociado, ele acata.)

Por causa da Síndrome, ele tem a coordenação um pouco prejudicada, o que poderia dificultar o aprendizado, mas como ele queria muito, acabamos cedendo.
Sinceramente, nunca esperei muito sobre as aulas. Nunca achei que ele tivesse uma veia musical, ou talento para isso. Mas ele mais uma vez me surpreendeu.

Antes mesmo de iniciar as aulas ele já se punha na frente do youtube e procurava por videos de aprendizagem. Não que ele tocasse algo corretamente ou harmoniosamente, mas iniciou melodias que, para quem nunca havia tocado nada, foi muito bem.

Com um mês de aulas ele já tocava a musica "Brilha brilha Estrelinha" (quatro versões!) e percebemos que ele levava jeito para a música.
Agora, com 3 meses de aula ele foi convidado para se apresentar num recital que a escola de música ia fazer. A emoção foi gigantesca. E o medo dele também.

Claro que a primeira ação foi ligar para a psicóloga, e perguntar: você acha que conseguimos? A pergunta é feita na treceira pessoa do plural, pois como todos os desafios que ele ultrapassa, estamos juntas na retaguarda. A escolha de expo-lo ou poupa-lo. A decisão de enfrentar ou não. E ela foi enfática: claro que sim!

Que fique claro que o nosso trabalho (ou receio) não é na área musical - quanto a isso muito pouco temos a fazer além de ouvir diariamente a mesma música sendo tocada e tocada. Para nós, o trabalho vem na confiança: em fazê-lo se sentir seguro, em deixá-lo confiante para entrar num palco e mostrar-se. Para ele, esse sim é o grande desafio.

E como não podia ser diferente, a apresentação foi linda. Claaaaro que a mãe chorou, se emocionou e quase enlouqueceu de tanto amor. Se fosse um desenho animado eu estaria com os olhos com corações saltando.

Para ele foi correto. Ele subiu ao palco, tocou, e tudo deu certo. Simples assim.
Tudo deu certo, não desafinou, não errou as notas, e não se estressou. 

Que venham novos desafios, para que ele supere sempre. E nós, a turma do backstage, estaremos ali, falando, conversando, incentivando para que ele alcance sempre mais uma vitoria de que possa se orgulhar de si mesmo. Para que ele enfrente mais um medo. 

Parabéns ao meu pequeno gigante, que capricha em tudo que faz. Que se entrega em seus desejos. Que sonha os seus sonhos. É muito bom fazer parte disso.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Dia Mundial De Conscientização do Autismo






Quem me conhece sabe que sou um pouco avessa a "dias comemorativos" como Dia da Mulher, Dia das Mães, e assim por diante. Como mulher e Mãe entendo que meu dia é todo dia, já que não visto uma fantasia e me sinto mulher demais para "caber" num só dia. Mas o dia de Conscientização acho extremamente necessário.

Porque não podemos falar todos os dias sobre o assunto, você acaba se tornando uma chata. E tendo um dia como este, abre um espaço imenso para que seja visto, ouvido e entendido muita coisa sobre o assunto.

As pessoas em geral, ao falar em Autismo logo imagina a criança que balança, que não conversa, que não interage. Já ouvi colocações extremamente desagradáveis, quando ao comunicar que meu filho era Autista (no PS Alvorada - em SPaulo) a médica me respondeu: "Ele não tem cara de autista". Opa, cara???? Claro, que respondi na hora: E autista tem cara de que???????

E eu poderia enumerar dezenas de passagens desaforadas e irritantes, e tenho certeza que muitas mães também, por falta de conhecimento, de respeito e de informação.

Comemoremos então o Dia de Conscientização, e que o mundo todo possa saber o quão maravilhosas nossas crianças são!

Como fazer parte desse movimento? Simples: se você puder informar uma pessoa que seja, já terá ajudado muito.
Vista azul, suba as hashtags nas redes sociais, chame a atenção para o Autismo, sempre com informação e comprometimento.

Grandes monumentos no mundo inteiro estão iluminados de azul, conte a alguém porque.

O dia é para informar, para conscientizar, para entender que cada um é único, e aceitar as diferenças com respeito e amor.